domingo, 9 de junho de 2013

Fato enfático, ou seja, a morte do cavalo. Ou: Cavalo comprado se olha os dentes.

     Quando eu era criança gostava muito de mexer nos guardados do meu avô, um dia encontrei uma carteira de habilitação de charrete, vermelho terra, de capa dura, mais sofisticada do que as nossas atuais, com foto e tudo, achei muito legal. Pertencia ao padrasto dele, um português que se chamava Manuel (pra variar). Ele era do começo do século XX, quando São Lourenço tinha menos de um terço da população de hoje, segundo a enciclopédia Koogan/Larousse. A carteira de habilitação de charrete do meu bisavô lusitano tinha sido exigida e tirada aqui, em São Lourenço, MG. Mas qual o meu objetivo com essa reminiscência?
    Há uma semana presenciamos o público falecimento de um trabalhador: um dos cavalos que transportavam os distintos turistas que mantêm esta cidade.  A notícia se espalhou mais rápido do que fumaça com o vento. É claro, ainda somos uma cidade pequena e por isso “notícia ruim chega rápido”; na era da rede social então, nem se fala! Vamos comparar as circunstâncias: Na época do Manoel, (o supracitado), exigia-se que um cocheiro possuísse habilitação, naquela época, quando a cidade era bem menos populosa. Em 2011 tivemos a mesma exigência, a habilitação para charretes voltou. Observemos, se o dono de um automóvel anda com o carro apresentando problemas mecânicos e é surpreendido numa blitz, com certeza medidas punitivas serão tomadas; e a charrete também é um veículo público, não só as regras de transito devem ser válidas, as do cuidado com o veículo e animal também. Atentemos para o cavalo que precisamos, ele deve ser esteticamente belo, forte, saudável e que atraia os turistas, como fazem os de Petrópolis por exemplo, cidade emblemática.  
     A morte do cavalo só revela uma coisa, que as coisas públicas tem ficado esquecidas. Devemos sim buscar a punição dos responsáveis pelos maus-tratos aos animais, mas devemos também, cuidar daquilo que é nosso (refiro-me aos bens públicos) para prevenirmos problemas e objetivarmos a conquista de nossos turistas. Sem querer ser trágico, mas já imaginaram se uma criança ou idoso ou qualquer adulto que seja, vindo visitar nossa cidade, sofre um óbito durante o acidente com uma charrete? Quais seriam as consequências? É necessário que os cocheiros sejam auxiliados na sua profissão, ajudados pelos órgãos públicos a se organizarem, cobrados na qualidade do serviço que prestam e ouvidos em suas requisições. Esta é uma cidade turística (que redundância). Precisamos repetir isso sempre? Sim. A morte do cavalo em sua charrete durante o trabalho não é um problema só do cocheiro, é um problema da cidade. “Não é meu problema, não é seu problema, então, deixa pra lá” - este tipo de pensamento não pode mais existir se quisermos melhorar. Precisamos ficar atentos com os sinais do descaso público, e este fato enfático, a morte do cavalo, é um sinal, um dos muitos.